Larvas de insetos estavam em estruturas carbonizadas, mas sobreviveram — Foto: Arquivo Pessoal/Jean Carlos Santos
Uma pesquisa descobriu que insetos estão criando “abrigos” para sobreviver aos incêndios florestais no Brasil. O país tem vivido um ciclo de chamas em vários de seus biomas, e os animais parecem estar buscando maneiras de resistir ao avanço do fogo.
O estudo, conduzido pela Universidade Federal de Sergipe, analisou galhas — estruturas que se formam em relevo nas árvores pelo depósito de larvas de insetos e parasitas. A área com as larvas passa por um crescimento “anormal” e, com isso, abriga os insetos que a provocaram, protegendo os recém-nascidos de predadores.
Após um incêndio devastador que atingiu uma área de preservação no Cerrado, em Minas Gerais, e queimou por mais de 24 horas, os pesquisadores colheram algumas dessas galhas e descobriram que, apesar de queimadas por fora, elas ainda guardavam larvas vivas.
Larvas vivas estavam em área devastada pelo fogo em 2012 — Foto: Arquivo Pessoal/Jean Carlos Santos
Para entender como isso foi possível, eles coletaram galhas de 40 árvores — algumas que haviam sido expostas ao fogo e outras que não. As galhas das áreas queimadas estavam em uma altura atingida por calor intenso e a maioria apresentava sinais de carbonização. (Veja a imagem acima)
Ao analisarem as amostras, os pesquisadores descobriram que 66% das larvas abrigadas em galhas sobreviveram. Em 20 dessas galhas, todas as larvas resistiram às chamas.
A pesquisa levanta o questionamento: com a reincidência de incêndios no Cerrado, os insetos estariam modificando a forma de construir galhas, tornando-as mais espessas para garantir a sobrevivência da espécie? Ou seja, estariam buscando formas de adaptação ao fogo? A proposta dos autores é que esse achado incentive novas pesquisas.
No último ano, 9,7 milhões de hectares foram queimados no Cerrado — 85% dessa área de vegetação nativa, principalmente formações savânicas. Em comparação com 2023, houve um aumento de 91% na área queimada. Foi o maior incêndio desde 2019.